José Everaldo Rodrigues Filho

Licenciado em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará.

Bacharelado em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Mestrado em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.

Laureado em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Lateranense de Roma

Bacharel em Direito e Advogado OAB-AL 13960


domingo, 28 de fevereiro de 2016

Ano Jubilar em honra a santa misericórdia de Deus


Ano Jubilar em honra a santa misericórdia de Deus

             Em Israel havia o costume de celebrar um ano jubilar a cada 50 anos, nele se devia restituir a igualdade a todos os filhos de Israel. Isto é, era o ano do perdão das dívidas, ano da misericórdia. Todos os endividados que não conseguiam honrar suas dívidas, podiam passar a ser escravos. No ano do perdão, todos restituíam a sua liberdade. A palavra Jubileu vem de Yobel a trombeta que soava, por ocasião da guerra, da convocação do povo e para proclamar este ano da graça.

A Igreja católica iniciou a tradição do Ano Santo com o Papa Bonifácio VIII em 1300. Ele planejou um jubileu por século. A partir de 1475, para possibilitar que cada geração vivesse pelo menos um Ano Santo, o jubileu ordinário passou a acontecer a cada 25 anos. Um jubileu extraordinário pode ser realizado em ocasião de um acontecimento de particular importância.

Até hoje, foram 26 Anos Santos ordinários. O último foi o Jubileu de 2000. Quanto aos jubileus extraordinários, o último foi o de 1983, instituído por João Paulo II pelos 1950 anos da Redenção.

A Igreja católica deu ao jubileu judaico um significado mais espiritual. Consiste em um perdão geral, uma indulgência aberta a todos, e uma possibilidade de renovar a relação com Deus e com o próximo. Assim, o Ano Santo é sempre uma oportunidade para aprofundar a fé e viver com renovado empenho o testemunho cristão.

O Papa anunciou um jubileu agora porque viu essa necessidade diante da realidade histórica atual. A violência é algo que está ameaçando o mundo: por razões religiosas, ideológicas, proliferação das drogas e manipulações da verdade, hoje a sobrevivência da sociedade está em risco. Hoje, os cristãos são chamados a esta experiência com Deus, que desce até nossa miséria”.

Diante da realidade política vivida no Brasil e das várias situações vividas pela humanidade como um todo, esse jubileu deve ser acolhido como mais uma oportunidade que Deus encontra para, com sua misericórdia, auxiliar o homem naquilo que ele precisa. É um sinal de que Deus continua conduzindo à história e não vai nos abandonar à mercê da nossa sorte. É preciso voltar a Ele em uma atitude de confiança.

O Papa Francisco tem falado da misericórdia desde o início de seu pontificado, foi uma surpresa ser instituído um jubileu dedicado a isso. Mas a misericórdia, mesmo sendo uma necessidade, nem sempre é colocada em prática. Essa experiência deve ser vivida, renovada a cada dia. Isto é, reviver a experiência da misericórdia sempre que for necessário. Como disse o papa Francisco: “Não digo: é bom para a Igreja este momento extraordinário…não, não! Digo: a Igreja precisa desse momento extraordinário”, que começou nesta terça-feira, 8, com a abertura da Porta Santa na Basílica de São Pedro.

O papa Francisco enfatizou o sentido desse Ano Santo: um tempo favorável para contemplar a misericórdia divina que ultrapassa qualquer limite humano. Mas esse período só será realmente favorável se as pessoas escolherem o que agrada a Deus: perdoar seus filhos, usar de misericórdia para com eles para que possam ser misericordiosos para com os outros.

Seja na sociedade, no trabalho e até mesmo na família, a humanidade precisa urgentemente de misericórdia, disse o Santo Padre. Alguns podem até dizer que há problemas mais urgentes para serem resolvidos e Francisco reconhece isso, mas lembrou que na raiz da falta de misericórdia está o amor próprio.

“No mundo, isso toma a forma da busca exclusiva dos próprios interesses, dos prazeres e honras unidos à vontade de acumular riquezas, enquanto na vida dos cristãos se disfarça muitas vezes de hipocrisia e mundanidade. Todas essas coisas são contrárias à misericórdia”.

Por isso mesmo, Francisco destacou a necessidade das pessoas reconhecerem seus pecados para experimentarem a misericórdia de Deus. “É necessário reconhecer ser pecador para reforçar em nós a certeza da misericórdia divina”. E ele ensinou uma oração simples para que se faça isso diariamente: “Senhor, eu sou um pecador, eu sou uma pecadora, venha com a sua misericórdia”.

 

Padre Cícero Romão Batista


Padre Cícero Romão Batista

O papa Francisco devolveu no dia 13/12/2015 os direitos sacerdotais de Padre Cícero Romão Batista. Padre Cícero tem, agora, o marco zero para sua reconsideração, beatificação e posterior santificação. O bispo diocesano de Crato, dom Fernando Panico, anunciou esta imensa alegria para todos os nordestinos.

Enfim, após mais de cem anos de punição, a Igreja teve a coragem de reconhecer que estava errada e faz justiça ao padre santo do nordeste. O Vaticano enviou uma carta à Diocese de Crato e aos romeiros de Juazeiro do Norte, em nome do papa Francisco, reconhecendo a importância de Padre Cícero para a evangelização: "E inegável que o Padre Cícero Romão Batista no arco de sua existência viveu uma fé simples, em sintonia com o seu povo e por isso mesmo desde o início foi compreendido e amado por este mesmo povo"' destaca trecho da carta do Vaticano.

O processo de reabilitação demorou mais de dez anos. Foi enviado um dossiê de mais de dez volumes para o Vaticano ainda quando João Paulo II era papa. Passou São João Paulo II, passou Bento XVI e na era do papa Francisco o anuncio de jubilo e alegria para todos nós.

Padre Cícero Romão Batista nasceu em Crato, Ceará, aos 24 de março de 1844, faleceu na cidade de Juazeiro do Norte aos 20 de julho de 1934. Era um homem Carismático, obteve grande prestígio e influência sobre a vida social, política e religiosa do Ceará, devido ao seu estilo de vida simples e a disposição para o serviço dos pobres.

Era filho de Joaquim Romão Batista e Joaquina Vicência Romana, conhecida como dona Quinô. Ainda aos 6 anos, começou a estudar com o professor Rufino de Alcântara Montezuma. Um fato importante marcou a sua infância: o voto de castidade feito aos 12 anos, influenciado pela leitura da vida de São Francisco de Sales.

Em 1860, foi matriculado no colégio do renomado padre Inácio de Sousa Rolim, em Cajazeiras na Paraíba. Aí pouco demorou, pois a inesperada morte de seu pai, vítima de cólera em 1862, o obrigou a interromper os estudos e voltar para junto da mãe e das irmãs solteiras. A morte do pai, que era pequeno comerciante no Crato, trouxe sérias dificuldades financeiras à família de tal sorte que, mais tarde, em 1865, quando Cícero Romão Batista precisou ingressar no Seminário da Prainha, em Fortaleza, só o fez graças à ajuda de seu padrinho de crisma, o coronel Antônio Luís Alves Pequeno.

Durante o período em que esteve no seminário, Cícero era considerado um aluno mediano e, apesar de anos depois arrebatar multidões com seus sermões, apresentou notas baixas nas disciplinas relacionadas à oratória e eloquência.

Cícero foi ordenado padre no dia 30 de novembro de 1870. Após sua ordenação retornou ao Crato e, enquanto o bispo não lhe dava paróquia para administrar, ficou a ensinar latim no Colégio Padre Ibiapina, fundado e dirigido pelo professor José Joaquim Teles Marrocos, seu primo e grande amigo.

No natal de 1871, convidado pelo professor Simeão Correia de Macedo, o padre Cícero visitou pela primeira vez o povoado de Juazeiro (numa fazenda localizada na povoação de Juazeiro, então pertencente à cidade do Crato), e ali celebrou a tradicional missa do galo.

O padre visitante, então aos 28 anos, estatura baixa, pele branca, cabelos louros, penetrantes olhos azuis e voz modulada, impressionou os habitantes do lugar. E a recíproca foi verdadeira. Por isso, decorridos alguns meses, exatamente no dia 11 de abril de 1872, lá estava de volta, com bagagem e família, para fixar residência definitiva no Juazeiro.

Muitos livros afirmam que Padre Cícero resolveu fixar morada em Juazeiro devido a um sonho (ou visão) que teve, segundo o qual, certa vez, ao anoitecer de um dia exaustivo, após ter passado horas a fio a confessar as pessoas do arraial, ele procurou descansar no quarto contíguo à sala de aulas da escolinha, onde improvisaram seu alojamento, quando caiu no sono e a visão que mudaria seu destino se revelou. Ele viu, conforme relataram aos amigos íntimos, Jesus Cristo e os doze apóstolos sentados à mesa, numa disposição que lembra a última Ceia, de Leonardo da Vinci. De repente, adentra ao local uma multidão de pessoas carregando seus parcos pertences em pequenas trouxas, a exemplo dos retirantes nordestinos. Cristo, virando-se para os famintos, falou da sua decepção com a humanidade, mas disse estar disposto ainda a fazer um último sacrifício para salvar o mundo. Porém, se os homens não se arrependessem depressa, Ele acabaria com tudo de uma vez. Naquele momento, Ele apontou para os pobres e, voltando-se inesperadamente ordenou: - E você, Padre Cícero, tome conta deles!

Uma vez instalado, formado por um pequeno aglomerado de casas de taipa e uma capelinha erigida pelo primeiro capelão-padre Pedro Ribeiro de Carvalho, em honra a Nossa Senhora das Dores, padroeira do lugar, ele tratou inicialmente de melhorar o aspecto da capelinha, adquirindo várias imagens com as esmolas dadas pelos fiéis.

Depois, tocado pelo ardente desejo de conquistar o povo que lhe fora confiado por Deus, desenvolveu intenso trabalho pastoral com pregação, conselhos e visitas domiciliares, como nunca se tinha visto na região. Dessa maneira, rapidamente ganhou a simpatia dos habitantes, passando a exercer grande liderança na comunidade. Paralelamente, agindo com muita austeridade, cuidou de moralizar os costumes da população, acabando pessoalmente com os excessos de bebedeira e com a prostituição.

Restaurada a harmonia, o povoado experimentou, então, os passos de crescimento, atraindo gente da vizinhança curiosa por conhecer o novo capelão.

Para auxiliá-lo no trabalho pastoral, o padre Cícero resolveu, a exemplo do que fizera Padre Ibiapina, famoso missionário nordestino falecido em 1883, recrutar mulheres solteiras e viúvas para a organização de uma irmandade leiga, formada por beatas, sob sua inteira autoridade. Atuou sempre com zelo na recepção dos peregrinos, dentre eles pode-se destacar José Lourenço Gomes da Silva, líder do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto.

No ano de 1889, durante uma missa celebrada pelo padre Cícero, a hóstia ministrada pelo sacerdote à beata Maria de Araújo se transformou em sangue na boca da beata. Segundo relatos, tal fenômeno se repetiu diversas vezes durante cerca de dois anos. Rapidamente espalhou-se a notícia de que acontecera um milagre em Juazeiro.

O povoado de Juazeiro do Norte passou a ser alvo de peregrinação, pois a multidão queria ver a beata e tratava os panos manchados de sangue como objetos divinos. O jornalista José Marrocos divulgou o fato ocorrido e se tornou um ardoroso defensor do milagre. A notícia rapidamente se espalhou para todo o Brasil, principalmente aos ouvidos do bispo do Rio de Janeiro dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, mais conhecido como Cardeal Arcoverde primeiro a ser elevado ao título e dignidade de cardeal na América Latina.

O cardeal Arcoverde enviou cartas ao bispo do Ceará D. Joaquim José Vieira, que o encarregou de destruir esta notícia de milagre do sertão do Cariri. Na opinião do Cardeal era apenas uma crendice tola, na sua cabeça jamais poderia haver um milagre na região, principalmente numa beata negra e ignorante. Tais cartas, fizeram o bispo do Ceará a chamar o Padre Cícero a Fortaleza para esclarecer o acontecido.

Depois do relato do Padre Cícero a diocese do Ceatrá formou uma comissão de padres e profissionais da área da saúde para investigar o suposto milagre. A comissão tinha como presidente o padre Clycério da Costa e como secretário o padre Francisco Ferreira Antero, contava, ainda, com a participação dos médicos Marcos Rodrigues Madeira e Ildefonso Correia Lima, além do farmacêutico Joaquim Secundo Chaves. Em 13 de outubro de 1891, a comissão encerrou as pesquisas e chegou à conclusão de que não havia explicação natural para os fatos ocorridos, sendo concluído como um milagre.

Insatisfeito com o parecer da comissão, o bispo do Ceará – só havia uma diocese em todo o Ceará na época - Dom Joaquim José Vieira nomeou uma nova comissão para investigar o caso, tendo como presidente o padre Alexandrino de Alencar e como secretário o padre Manoel Cândido. A segunda comissão concluiu que não houve milagre, mas sim uma mentira.

Dom Joaquim se posicionou favorável ao segundo parecer e, com base nele, suspendeu as ordens sacerdotais de padre Cícero e determinou que a beata Maria de Araújo, que viria a morrer em 1914, fosse enclausurada.

Depois de várias tentativas de convencer o bispo da injusta punição, em 1898, padre Cícero foi a Roma, onde se reuniu com o Papa Leão XIII e com membros da Congregação do Santo Ofício, conseguindo sua absolvição. No entanto, ao retornar a Juazeiro, a decisão do Vaticano foi revista e padre Cícero teria sido excomungado, porém, estudos realizados décadas depois sugerem que a excomunhão não chegou a ser aplicada de fato. O bispo de então, dom Marcolino escreveu uma carta ao Santo Ofício, pedindo que a pena fosse convertida em suspensão de ordens. Diante da impossibilidade de exercer seu ministério sacerdotal e com uma ânsia enorme de servir o povo nordestino, resolve ingressar no mundo da política, para trazer prosperidade a sua querida cidade Juazeiro.

Era filiado ao extinto Partido Republicano Conservador (PRC). Foi o primeiro prefeito de Juazeiro do Norte, em 1911, quando o povoado foi elevado a cidade. Em 1926 foi eleito deputado federal, porém não chegou a assumir o cargo. Decidiu nunca sair de Juazeiro e de seu querido povo. Em 4 de outubro de 1911, o padre Cícero e outros 16 líderes políticos da região se reuniram em Juazeiro e firmaram um acordo de cooperação mútua bem como o compromisso de apoiar o governador Antônio Pinto Nogueira Accioly. O encontro recebeu a alcunha de Pacto dos Coronéis, sendo apontado como uma importante passagem na história do coronelismo brasileiro.

Antônio Pinto Nogueira Accioly foi presidente do Ceará (hoje governador) e um dos mais influentes políticos do Ceará durante a República Velha. O oligarca governou o Ceará entre 1896 e 1912 com apoio do governo federal.

Em 1911, a oligarquia Accioly dava sinais de declínio e as constantes disputas internas enfraqueciam ainda mais o bloco coronelista. Então, a 4 de outubro de 1911, líderes políticos de 17 localidades do Interior cearense se reuniram em Juazeiro para firmar pacto de harmonia entre si e apoio incondicional a Nogueira Accioly. O chamado "Pacto dos Coronéis" tinha também como objetivo acabar com a onda de crimes praticados impunemente na região.

O jornalista e escritor Lira Neto, autor do livro "Padre Cícero, Poder, Fé e Guerra no Sertão", afirma que, na época, os coronéis viviam se digladiando entre si. O encontro foi aberto pelo coronel Antônio Joaquim de Santana, chefe político de Missão Velha que, segundo Lira Neto, "manejava as cordas da viola tão bem quanto o gatilho da garrucha". A presidência da sessão foi repassada para o Padre Cícero Romão Batista, então prefeito de Juazeiro do Norte. Estiveram presentes na reunião e assinaram o pacto, que foi posteriormente registrado em cartório, os líderes políticos de Missão Velha, Crato, Juazeiro, Araripe, Jardim, Santana do Cariri, Assaré, Várzea Alegre, Campos Sales, São Pedro do Cariri (Caririaçu), Aurora, Milagres, Porteiras, Lavras da Mangabeira, Barbalha, Quixará (Farias Brito) e Brejo Santo.

Em 1913, foi destituído do cargo pelo governador Marcos Franco Rabelo, voltando ao poder em 1914, quando Franco Rabelo foi deposto no evento que ficou conhecido como Sedição de Juazeiro.

A Revolta ou Sedição de Juazeiro foi um confronto ocorrido em 1914 entre as oligarquias cearenses e o governo federal provocado pela interferência do poder central na política estadual nas primeiras décadas do século XX. Sob a liderança de Floro Bartolomeu e do padre Cícero Romão Batista, um exército de jagunços derrotou as forças do governo federal, depondo Franco Rabelo. Após a revolta, padre Cícero sofreu retaliações políticas, permaneceu como eminência parda da política cearense por mais de uma década e não perdeu sua influência sobre a população camponesa.

Com o intuito de conter seus opositores, o presidente Hermes da Fonseca criou a política das salvações que consistia em promover intervenção federal nos estados evitando que oposicionistas fossem eleitos para o governo estadual. O marechal Hermes da Fonseca decidiu intervir no estado do Ceará com objetivo de neutralizar o poder das oligarquias mais poderosas da região, que estavam sob controle do senador gaúcho José Gomes Pinheiro Machado, um político com muita influência sobre os coronéis do Norte e Nordeste brasileiro.

Eleito intendente (prefeito) de Juazeiro em 1911, padre Cícero envolveu-se na disputa com o presidente Hermes da Fonseca para manter no poder regional a família Acioly. Em 1912, a interveção federal no Ceará derrubou do poder a família Acioly, sendo nomeado interventor o coronel Marcos Franco Rabelo, havendo eleição apenas para o cargo de vice-governador, na qual padre Cícero Romão Batista foi eleito, acumulando também o cargo de intendente de Juazeiro do Norte. Naquela época, o padre Cícero já era conhecido no sertão nordestino por ser considerado um homem santo e "fazedor de milagres". Chamavam-no de "Padim Ciço".

Em 1914 Franco Rabelo rompeu com o Partido Republicano Conservador (PRC), e iniciou uma perseguição a Padre Cícero, destituindo-o dos cargos que exercia e ordenando a prisão do sacerdote.

O deputado federal Floro Bartolomeu, aliado de Pinheiro Machado, montou um batalhão para defender Padre Cícero, seu amigo pessoal. O grupo era formado por jagunços e romeiros, era a união da força de Floro com o carisma de Padre Cícero.

Quando os soldados de Franco Rabelo chegaram a Juazeiro do Norte se depararam com uma situação inusitada: em apenas uma semana, os romeiros cavaram um valado de nove quilômetros de extensão cercando toda a cidade e ergueram uma muralha de pedra na colina do Horto. A fortificação recebeu o nome de "Círculo da Mãe de Deus". O batalhão, ao ver que seria impossível romper o círculo, recuou e pediu reforços.

As forças estaduais retornaram à cidade do Crato e pediram reforços para destruir o Círculo. Franco Rabelo enviou mais soldados e um canhão para invadir Juazeiro do Norte. No entanto, o canhão falhou e as forças rabelistas foram facilmente derrotadas pelos revoltosos.

Após expulsar os invasores, Floro Bartolomeu parte para o Rio de Janeiro a fim de conseguir aliados. Os revoltosos seguem para Fortaleza com o objetivo de derrubar o governador.

Na capital federal, Floro consegue o apoio do senador Pinheiro Machado. Quando as forças juazeirenses chegam a Fortaleza, uma esquadrilha da Marinha impôs um bloqueio marítimo na orla fortalezense. Cercado, Franco Rabelo não teve como reagir e foi deposto.

Hermes da Fonseca nomeou interinamente Fernando Setembrino de Carvalho, enquanto novas eleições foram convocadas. Benjamin Liberato Barroso foi eleito governador e Padre Cícero vice novamente.

Ao fim dos anos 20, o padre Cícero começou a perder a sua força política, que praticamente acabou depois da Revolução de 1930. Seu prestígio como santo milagreiro, porém, aumentaria cada vez mais.

Um fato notável é o encontro de Padre Cícero Romão Batista com Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. Lampião era devoto de padre Cícero e respeitava as suas crenças e conselhos. Os dois se encontraram uma única vez, em Juazeiro do Norte, em 1926. Naquele ano, a Coluna Prestes, liderada por Luís Carlos Prestes, percorria o interior do Brasil desafiando o Governo Federal. Para combatê-la foram criados os chamados Batalhões Patrióticos, comandados por líderes regionais que muitas vezes arregimentavam cangaceiros.

Existem duas versões para o encontro. Na primeira, difundida por Billy Jaynes Chandler, o sacerdote teria convocado Lampião para se juntar ao Batalhão Patriótico de Juazeiro, recebendo em troca, anistia de seus crimes e a patente de Capitão. Na outra versão, defendida por Lira Neto e Anildomá Willians, o convite teria sido feito por Floro Bartolomeu sem que padre Cícero soubesse.

O certo é que ao chegarem em Juazeiro, Lampião e os 49 cangaceiros que o acompanhavam, ouviram padre Cícero aconselhá-los a abandonar o cangaço. Como Lampião exigia receber a patente que lhe fora prometida, Pedro de Albuquerque Uchoa, único funcionário público federal no município, escreveu em uma folha de papel que Lampião seria, a partir daquele momento, Capitão e receberia anistia por seus crimes. O bando deixou Juazeiro sem enfrentar a Coluna Prestes.

Maria de Araújo passou os últimos anos de sua vida enclausurada até falecer em 1914. Em 1931, seu túmulo que ficava na Igreja de Nossa Senhora do Pérpetuo Socorro em Juazeiro foi violado e seus restos mortais foram saqueados e nunca mais encontrados. Tal fato entristeceu em demasia Padre Cícero, porém quando o Padre Cícero morreu o Povo o seputou na mesma Igreja na qual havia sido sepultada Maria de Araújo. O padre Cícero faleceu em Juazeiro do Norte em 20 de julho de 1934, aos 90 anos.

Por alta estima do povo, foram doados ao padre Cícero Romão Batista, várias glebas de terra, gado, diversos imóveis e inúmeros bens. Todos os seus bens foram doados à congregação Salesiana, antes de sua morte com o objetivo de construir um hospital e uma faculdade na cidade de Juazeiro. Morreu pobre, com uma batina surrada, carregado pelo Povo.

Em março de 2001, foi escolhido "O Cearense do Século" em votação promovida pela TV Verdes Mares em parceria com a Rede Globo de televisão. Em julho de 2012, foi eleito um dos "100 maiores brasileiros de todos os tempos" em concurso realizado pelo SBT com a BBC.

Se Deus quiser haveremos de ver O Padre Cícero Canonizado, isto é, proclamado santo pela Igreja Católica, para a honra e a glória de Deus.