José Everaldo Rodrigues Filho

Licenciado em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará.

Bacharelado em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Mestrado em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.

Laureado em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Lateranense de Roma

Bacharel em Direito e Advogado OAB-AL 13960


terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

O Pecado do Carreirismo na Igreja Católica


O Pecado do Carreirismo na Igreja Católica

 

Côn. José Everaldo

 

            Uma das tentações mais graves sofridas por Jesus em seu ministério público foi o da ganância do Poder. “Satanás transportou-o uma vez mais, a um monte muito alto, e lhe mostrou todos os reinos do mundo e a sua glória, e disse-lhe: Dar-te-ei tudo isto se, prostrando-te diante de mim, me adorares. Respondeu-lhe Jesus: Para trás, Satanás, pois está escrito: Adorarás o Senhor teu Deus e só a ele servirás (Dt 6,13)” (cf. Mt 4,8-10).

            Um dos pecados mais graves vividos pela Igreja hoje e, que o Papa Francisco corajosamente vem denunciando, é o carreirismo eclesiástico. Carreirismo eclesiástico vem de carreira, ambição aos postos mais elevados da Igreja. O papa Francisco chama de carreirismo eclesiástico, a ganância para ser bispo, para ser arcebispo, para ser cardeal, ou para ter boas paróquias, para ter dioceses importantes etc. Na reunião que o Papa Francisco fez com os bispos na JMJ 2013, ano passado, disse que os Bispos pecam gravemente quando buscam as mais importantes e maiores dioceses e para conseguir esse objetivo fazem manobras de todo o tipo, bajulações, troca de benefícios e o mais vergonhoso é o jogo sujo do denuncismo, levantando boatos para destruir a boa fama de alguém.

            É escandaloso ver que este tipo de pecado está presente do meio do clero, mas é a dura e crua realidade. É triste ver que há muitos padres e bispos que não tem a menor vocação para o serviço. Muitos chegaram ao ministério usando as manobras acima elencadas. Tais pessoas sofrem por se frustrarem, já que o ministério não é um mar de rosas. O pior é que fazem outros sofrer com ações que não são inspiradas por Deus, mas por sua visão doentia e megalomaníaca. Megalomaníaca sim, pois constroem um projeto para si e não para os outros. Incapazes de ouvir os outros são homens da imposição de suas vontades, pessoas que só veem o cisco no olho dos outros e não percebem a trave que existe nos seus próprios olhos.

Isso presenciamos lá no Vaticano, no episcopado e em muitos presbitérios de muitas dioceses espalhadas pelo mundo. Um dos conselhos mais fortes que Jesus deu aos seus discípulos foi o seguinte: “Quem quiser ser o maior seja o servo de todos” (cf. Mc 10,42s). O Serviço é doar-se ao irmão, dedicar-se aos pobres e sofredores sem a ânsia de poder e de glórias humanas.

Certa vez santa Teresa de Jesus foi procurada para aconselhamento espiritual por um sacerdote que há pouco fora eleito para o episcopado. A santa prontamente o atendeu e, entre os conselhos dados, disse-lhe o seguinte: “Reverendo Padre, se tu alguma vez desejaste o episcopado e fizeste por onde alcançá-lo: não aceite a nomeação. Se desejaste o episcopado e não fizeste por onde para alcançá-lo: talvez aceite. Se, porém, nunca desejaste o episcopado e nunca fizeste por onde: aceite a nomeação”.

As palavras de Teresa de Jesus traduzem perfeitamente como alguém deve agir diante de uma promoção. A vocação sacerdotal deve proceder de Deus. As virtudes e aptidões que figuram – o que muitas vezes não acontece – no candidato eleito para o episcopado, por exemplo, devem ser sinceras e não resultado de uma personalidade forjada para atingir o que sempre desejou.

Também na Igreja sempre houve casos de pessoas, envenenadas por ganancia do poder, que fazem de tudo para conseguir ascender a elevados cargos. Alguns já sonham desde o tempo de seminário: imaginam tudo como se o primeiro ônus a lhe ser dado pelo bispo diocesano, após sua ordenação presbiteral, seja o de pároco numa paróquia que lhe ofereça todas as possibilidades de realização de seus sonhos. Também há os que sonham – ainda apenas dentro do âmbito diocesano – assumir alguma função na área administrativa/burocrática, ou um lugar no Colégio de Consultores ou no Conselho Presbiteral.

É preciso rezar a Deus para nos dar um ânimo vital de conversão. Deus ajude o Papa Francisco, com sua voz profética, para que surja uma nova Igreja que seja solidária e amante do serviço.