O
Pecado do Carreirismo na Igreja Católica
Côn. José Everaldo
Uma
das tentações mais graves sofridas por Jesus em seu ministério público foi o da
ganância do Poder. “Satanás transportou-o uma vez
mais, a um monte muito alto, e lhe mostrou todos os reinos do mundo e a sua
glória, e disse-lhe: Dar-te-ei tudo isto se, prostrando-te diante de mim, me
adorares. Respondeu-lhe Jesus: Para trás, Satanás, pois está escrito: Adorarás o
Senhor teu Deus e só a ele servirás (Dt 6,13)” (cf. Mt 4,8-10).
Um dos pecados mais graves vividos
pela Igreja hoje e, que o Papa Francisco corajosamente vem denunciando, é o
carreirismo eclesiástico. Carreirismo eclesiástico vem de carreira, ambição aos
postos mais elevados da Igreja. O papa Francisco chama de carreirismo
eclesiástico, a ganância para ser bispo, para ser arcebispo, para ser cardeal,
ou para ter boas paróquias, para ter dioceses importantes etc. Na reunião que o
Papa Francisco fez com os bispos na JMJ 2013, ano passado, disse que os Bispos pecam
gravemente quando buscam as mais importantes e maiores dioceses e para
conseguir esse objetivo fazem manobras de todo o tipo, bajulações, troca de
benefícios e o mais vergonhoso é o jogo sujo do denuncismo, levantando boatos
para destruir a boa fama de alguém.
É escandaloso ver que este tipo de pecado
está presente do meio do clero, mas é a dura e crua realidade. É triste ver que
há muitos padres e bispos que não tem a menor vocação para o serviço. Muitos
chegaram ao ministério usando as manobras acima elencadas. Tais pessoas sofrem
por se frustrarem, já que o ministério não é um mar de rosas. O pior é que
fazem outros sofrer com ações que não são inspiradas por Deus, mas por sua
visão doentia e megalomaníaca. Megalomaníaca sim, pois constroem um projeto
para si e não para os outros. Incapazes de ouvir os outros são homens da
imposição de suas vontades, pessoas que só veem o cisco no olho dos outros e
não percebem a trave que existe nos seus próprios olhos.
Isso
presenciamos lá no Vaticano, no episcopado e em muitos presbitérios de muitas
dioceses espalhadas pelo mundo. Um dos conselhos mais fortes que Jesus deu aos
seus discípulos foi o seguinte: “Quem quiser ser o maior seja o servo de todos”
(cf. Mc 10,42s). O Serviço é doar-se ao irmão, dedicar-se aos pobres e
sofredores sem a ânsia de poder e de glórias humanas.
Certa
vez santa Teresa de Jesus foi procurada para aconselhamento
espiritual por um sacerdote que há
pouco fora eleito para o episcopado. A santa prontamente o atendeu e, entre os
conselhos dados, disse-lhe o seguinte: “Reverendo Padre, se tu
alguma vez desejaste o episcopado e fizeste por onde alcançá-lo: não aceite a
nomeação. Se desejaste o episcopado e não
fizeste por onde para alcançá-lo: talvez aceite. Se, porém, nunca desejaste o
episcopado e nunca fizeste por onde: aceite a nomeação”.
As
palavras de Teresa de Jesus traduzem perfeitamente como alguém deve agir diante
de uma promoção. A vocação sacerdotal deve proceder de Deus. As virtudes e aptidões que
figuram – o que muitas vezes não acontece – no candidato eleito para o
episcopado, por exemplo, devem ser sinceras e não resultado de uma
personalidade forjada para atingir o que sempre desejou.
Também na Igreja sempre houve casos de pessoas,
envenenadas por ganancia do poder, que fazem de tudo para conseguir ascender a
elevados cargos. Alguns já
sonham desde o tempo de seminário: imaginam tudo como se o primeiro ônus a lhe
ser dado pelo bispo diocesano, após sua ordenação presbiteral, seja o de pároco
numa paróquia que lhe ofereça todas as possibilidades de realização de seus
sonhos. Também há os que sonham – ainda apenas dentro do âmbito diocesano –
assumir alguma função na área administrativa/burocrática, ou um lugar no
Colégio de Consultores ou no Conselho Presbiteral.
É
preciso rezar a Deus para nos dar um ânimo vital de conversão. Deus ajude o
Papa Francisco, com sua voz profética, para que surja uma nova Igreja que seja
solidária e amante do serviço.