José Everaldo Rodrigues Filho

Licenciado em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará.

Bacharelado em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Mestrado em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.

Laureado em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Lateranense de Roma

Bacharel em Direito e Advogado OAB-AL 13960


segunda-feira, 18 de agosto de 2014


Fanatismo religioso

            No dia 18 de abril de 2014 a irmã Raghid, ex-diretora da escola do patriarcado grego-católico de Damasco, denunciou na Rádio Vaticano que na Síria, pais em guerra civil, muitos cristãos que se recusaram a professar a fé muçulmana ou pagar resgate foram crucificados por jihadistas. Isso aconteceu em Abra, na zona industrial na periferia de Damasco. De acordo com a denúncia, depois da crucificação os jihadistas "pegaram as cabeças das vítimas e jogaram futebol com elas", e ainda levaram os bebês das mulheres e "os penduraram em árvores com os seus cordões umbilicais".

Diante do horror dessa notícia estarrecedora pensei em escrever sobre o tema do fanatismo religioso, que não é um fenômeno do oriente, mas é um fenômeno que está muito próximo de nós.

O fanatismo religioso é sempre irracional e infundado. É uma crença exagerada, uma adesão cega a uma visão de mundo ou unilateralidade doutrinal, de tal modo que o fanático identifica sua crença com a verdade absoluta e se sente como o dono da verdade. Pior, considera seu inimigo todos aqueles que não compartilham sua fé. O fanático explora o exótico, o extravagante, o mundo fora do comum. O fanatismo separa as pessoas, desprezando os outros como indignos hereges e infiéis.

O Fanatismo Religioso leva o indivíduo as maiores atrocidades humanas. Pois, ele é intolerante, isto é, é clara a sua incapacidade de respeitar a liberdade de escolha do outro. Não podemos atirar pedras nos mulçumanos, pois no passado os cristãos foram capazes de atrocidades piores em nome de sua fé. Temos um passado sujo, pois as guerras santas foram estimuladas pelas lideranças católicas, o que não dizer da inquisição e das cruzadas? No passado foram os cristãos e no presente são os mulçumanos.

Uma das acusações mais comuns feitas às religiões é que elas causam mais violência do que paz. Na música “Imagine” John Lenon afirma nas entrelinhas que o mundo seria um lugar melhor sem elas e suas rivalidades. No mundo da cultura racionalista cansei de ouvir a seguinte acusação: “A bíblia é o livro da discórdia e não da concórdia”. Não só a bíblia, mas outros livros sagrados como: o Bhagavad-Gita, Tri-Pitakas, Alcorão e Kitáb-i-Aqdas. Porém, se juntarmos cegamente todos esses livros todos, absolutamente todos, exaltam o amor, a fraternidade, o equilíbrio, a concórdia entre os homens.

Chegamos a dura e crua realidade, as atrocidades provocadas pelos fanáticos religiosos não procedem dos ensinamentos religiosos, mas de mentes doentias que instrumentalizam os conceitos religiosos como meios de extravasar a selvageria de suas entranhas.

Nenhuma religião ensina a matar, a espoliar, a denigrir a vida humana. O problema é a instrumentalização da religião, a hermenêutica que se faz ou as mais absurdas argumentações para justificar as atrocidades inclusive as religiosas. O fanático religioso é uma erva daninha, um câncer social que perverte o bem indelével da vida.

De acordo com Diego Omar, professor de Educação da Universidade Federal de Ouro Preto e membro do Núcleo de Estudos da Religião da instituição, os fanáticos são pessoas que se opõem a qualquer mudança na tradição religiosa da qual são seguidoras. “Existem fanáticos católicos, neopetencostais, islâmicos e muitos outros”.

O que dizer do presidente George W. Bush que utilizou o poderio militar para atacar o Iraque usando como argumento um mandato divino? O que dizer do atirador de Realengo que entrou numa escola massacrando alguns professores e 22 alunos, sendo morto por policiais. Antes de partir para o massacre deixou uma carta na qual afirma que vozes do além pediam que ele realizasse tal atrocidade. Em todas as religiões um fanático é um perigo.

Hoje vivemos um tempo de globalização da informação aqueles que se julgam donos da verdade ficarão esquecidos na história como homens desvinculados do tempo e incapazes de contemplar as contínuas mudanças de nosso mundo. Evitando o indiferentismo, temos que basear nossas convicções nas verdades indeléveis do Evangelho sem nos determos naquilo que é acidental e mutável. É nessa lógica que o papa Francisco, na maior das boas vontades, convoca um sínodo extraordinário para debater o tema da família e sua transformação nos tempos modernos. Creio que a Igreja não tem o direito de negar um sacramento a quem pede espontaneamente. Pois, baseados em meras interpretações doutrinárias, muitos membros da Igreja estão provocando mais dor do que alívio ás pessoas que os buscam para encontrar o rosto materno de seu Deus.

Sem esta convicção o sectarismo, a intolerância e a incapacidade de diálogo será sempre tumores presentes na Igreja.. Que Deus nos livre desse mal e a humanidade se torne mais tolerante e fraterna.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

O Pecado do Carreirismo na Igreja Católica


O Pecado do Carreirismo na Igreja Católica

 

Côn. José Everaldo

 

            Uma das tentações mais graves sofridas por Jesus em seu ministério público foi o da ganância do Poder. “Satanás transportou-o uma vez mais, a um monte muito alto, e lhe mostrou todos os reinos do mundo e a sua glória, e disse-lhe: Dar-te-ei tudo isto se, prostrando-te diante de mim, me adorares. Respondeu-lhe Jesus: Para trás, Satanás, pois está escrito: Adorarás o Senhor teu Deus e só a ele servirás (Dt 6,13)” (cf. Mt 4,8-10).

            Um dos pecados mais graves vividos pela Igreja hoje e, que o Papa Francisco corajosamente vem denunciando, é o carreirismo eclesiástico. Carreirismo eclesiástico vem de carreira, ambição aos postos mais elevados da Igreja. O papa Francisco chama de carreirismo eclesiástico, a ganância para ser bispo, para ser arcebispo, para ser cardeal, ou para ter boas paróquias, para ter dioceses importantes etc. Na reunião que o Papa Francisco fez com os bispos na JMJ 2013, ano passado, disse que os Bispos pecam gravemente quando buscam as mais importantes e maiores dioceses e para conseguir esse objetivo fazem manobras de todo o tipo, bajulações, troca de benefícios e o mais vergonhoso é o jogo sujo do denuncismo, levantando boatos para destruir a boa fama de alguém.

            É escandaloso ver que este tipo de pecado está presente do meio do clero, mas é a dura e crua realidade. É triste ver que há muitos padres e bispos que não tem a menor vocação para o serviço. Muitos chegaram ao ministério usando as manobras acima elencadas. Tais pessoas sofrem por se frustrarem, já que o ministério não é um mar de rosas. O pior é que fazem outros sofrer com ações que não são inspiradas por Deus, mas por sua visão doentia e megalomaníaca. Megalomaníaca sim, pois constroem um projeto para si e não para os outros. Incapazes de ouvir os outros são homens da imposição de suas vontades, pessoas que só veem o cisco no olho dos outros e não percebem a trave que existe nos seus próprios olhos.

Isso presenciamos lá no Vaticano, no episcopado e em muitos presbitérios de muitas dioceses espalhadas pelo mundo. Um dos conselhos mais fortes que Jesus deu aos seus discípulos foi o seguinte: “Quem quiser ser o maior seja o servo de todos” (cf. Mc 10,42s). O Serviço é doar-se ao irmão, dedicar-se aos pobres e sofredores sem a ânsia de poder e de glórias humanas.

Certa vez santa Teresa de Jesus foi procurada para aconselhamento espiritual por um sacerdote que há pouco fora eleito para o episcopado. A santa prontamente o atendeu e, entre os conselhos dados, disse-lhe o seguinte: “Reverendo Padre, se tu alguma vez desejaste o episcopado e fizeste por onde alcançá-lo: não aceite a nomeação. Se desejaste o episcopado e não fizeste por onde para alcançá-lo: talvez aceite. Se, porém, nunca desejaste o episcopado e nunca fizeste por onde: aceite a nomeação”.

As palavras de Teresa de Jesus traduzem perfeitamente como alguém deve agir diante de uma promoção. A vocação sacerdotal deve proceder de Deus. As virtudes e aptidões que figuram – o que muitas vezes não acontece – no candidato eleito para o episcopado, por exemplo, devem ser sinceras e não resultado de uma personalidade forjada para atingir o que sempre desejou.

Também na Igreja sempre houve casos de pessoas, envenenadas por ganancia do poder, que fazem de tudo para conseguir ascender a elevados cargos. Alguns já sonham desde o tempo de seminário: imaginam tudo como se o primeiro ônus a lhe ser dado pelo bispo diocesano, após sua ordenação presbiteral, seja o de pároco numa paróquia que lhe ofereça todas as possibilidades de realização de seus sonhos. Também há os que sonham – ainda apenas dentro do âmbito diocesano – assumir alguma função na área administrativa/burocrática, ou um lugar no Colégio de Consultores ou no Conselho Presbiteral.

É preciso rezar a Deus para nos dar um ânimo vital de conversão. Deus ajude o Papa Francisco, com sua voz profética, para que surja uma nova Igreja que seja solidária e amante do serviço.