Fanatismo
religioso
No dia 18 de abril de 2014 a irmã Raghid,
ex-diretora da escola do patriarcado grego-católico de Damasco, denunciou na
Rádio Vaticano que na Síria,
pais em guerra civil, muitos cristãos que se recusaram a professar a fé
muçulmana ou pagar resgate foram crucificados por jihadistas. Isso aconteceu em
Abra, na zona industrial na periferia de Damasco. De acordo com a denúncia,
depois da crucificação os jihadistas "pegaram as cabeças das vítimas e
jogaram futebol com elas", e ainda levaram os bebês das mulheres e
"os penduraram em árvores com os seus cordões umbilicais".
Diante do horror
dessa notícia estarrecedora pensei em escrever sobre o tema do fanatismo
religioso, que não é um fenômeno do oriente, mas é um fenômeno que está muito
próximo de nós.
O
fanatismo religioso é sempre irracional e infundado. É
uma crença exagerada, uma adesão cega a uma visão de mundo ou unilateralidade doutrinal,
de tal modo que o fanático identifica sua crença com a verdade absoluta e se
sente como o dono da verdade. Pior, considera seu inimigo todos aqueles que não
compartilham sua fé. O fanático explora o exótico, o extravagante, o
mundo fora do comum. O fanatismo separa as pessoas, desprezando os outros como
indignos hereges e infiéis.
O Fanatismo Religioso leva o
indivíduo as maiores atrocidades humanas. Pois, ele é intolerante, isto é, é
clara a sua incapacidade de respeitar a liberdade de escolha do outro. Não
podemos atirar pedras nos mulçumanos, pois no passado os cristãos foram capazes
de atrocidades piores em nome de sua fé. Temos um passado sujo, pois as guerras
santas foram
estimuladas pelas lideranças católicas, o que não dizer da inquisição e das
cruzadas? No passado foram os cristãos e no presente são os mulçumanos.
Uma das
acusações mais comuns feitas às religiões é que elas causam mais violência do
que paz. Na música “Imagine” John Lenon afirma nas entrelinhas que o mundo
seria um lugar melhor sem elas e suas rivalidades. No mundo da cultura
racionalista cansei de ouvir a seguinte acusação: “A bíblia é o livro da
discórdia e não da concórdia”. Não só a bíblia, mas outros livros sagrados como:
o Bhagavad-Gita, Tri-Pitakas, Alcorão e Kitáb-i-Aqdas. Porém, se juntarmos
cegamente todos esses livros todos, absolutamente todos, exaltam o amor, a
fraternidade, o equilíbrio, a concórdia entre os homens.
Chegamos a dura e crua realidade, as atrocidades provocadas
pelos fanáticos religiosos não procedem dos ensinamentos religiosos, mas de
mentes doentias que instrumentalizam os conceitos religiosos como meios de
extravasar a selvageria de suas entranhas.
Nenhuma religião ensina a matar, a espoliar, a denigrir a
vida humana. O problema é a instrumentalização da religião, a hermenêutica que
se faz ou as mais absurdas argumentações para justificar as atrocidades
inclusive as religiosas. O fanático religioso é uma erva daninha, um câncer
social que perverte o bem indelével da vida.
De acordo com Diego
Omar, professor de Educação da Universidade Federal de Ouro Preto e membro do
Núcleo de Estudos da Religião da instituição, os fanáticos são pessoas que se
opõem a qualquer mudança na tradição religiosa da qual são seguidoras. “Existem
fanáticos católicos, neopetencostais, islâmicos e muitos outros”.
O que dizer do
presidente George W. Bush que utilizou o poderio militar para atacar o Iraque
usando como argumento um mandato divino? O que dizer do atirador de Realengo
que entrou numa escola massacrando alguns professores e 22 alunos, sendo morto
por policiais. Antes de partir para o massacre deixou uma carta na qual afirma
que vozes do além pediam que ele realizasse tal atrocidade. Em todas as
religiões um fanático é um perigo.
Hoje
vivemos um tempo de globalização da informação aqueles que se julgam donos da
verdade ficarão esquecidos na história como homens desvinculados do tempo e incapazes
de contemplar as contínuas mudanças de nosso mundo. Evitando o indiferentismo,
temos que basear nossas convicções nas verdades indeléveis do Evangelho sem nos
determos naquilo que é acidental e mutável. É nessa lógica que o papa
Francisco, na maior das boas vontades, convoca um sínodo extraordinário para
debater o tema da família e sua transformação nos tempos modernos. Creio que a
Igreja não tem o direito de negar um sacramento a quem pede espontaneamente.
Pois, baseados em meras interpretações doutrinárias, muitos membros da Igreja
estão provocando mais dor do que alívio ás pessoas que os buscam para encontrar
o rosto materno de seu Deus.
Sem esta
convicção o sectarismo, a intolerância e a incapacidade de diálogo será sempre
tumores presentes na Igreja.. Que Deus nos livre desse mal e a humanidade se
torne mais tolerante e fraterna.